quarta-feira, 20 de junho de 2018


A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL E O MUNDO, A FAMÍLIA PAIM, E O SURGIMENTO DOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA

"A VACARIA DOS PINHAIS"


A história Arquipélago dos Açores e de seu descobrimento pelos portugueses é muito controversa. O seu descobrimento é atribuído a Gonçalo Velho que em 1431 desembarcou em uma de suas ilhas, embora houvessem inúmeras menções de que o arquipélago já constava dos mapas genoveses de 1.351; o que levou os historiadores a afirmarem que já se conheciam aquelas ilhas, desde o regresso das expedições às ilhas Canárias realizadas cerca de 1340-1345, no reinado de Afonso IV de Portugal. O fato é que esta descoberta aconteceu, oficialmente, após a descoberta de Porto Santo e da Ilha da Madeira por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, dois navegadores que em conjunto com Bartolomeu Perestrelo, chegaram à ilha da Madeira em 2 de julho de 1419. Com o reconhecimento das potencialidades das ilhas, bem como pela sua importância estratégica, Dom João I de Portugal e sua esposa Philippa de Lancaster se decidiram por promover a sua imediata colonização.
O arquipélago dos Açores e a Ilha da Madeira, tiveram um papel fundamental no processo de expansão colonial de Portugal. Á época, Portugal desenvolveu a maior frota naval do mundo, e estabeleceu mais de 80 colônias distribuídas abaixo da linha das Canárias. Seus domínios começavam pela África Ocidental, passavam pelo Cabo da Boa Esperança, e atingiam a África Oriental, a Índia, e chegavam até a China. Alguns historiadores afirmam que os portugueses chegaram inclusive ao Japão, onde traços de processos de cristianização foram encontrados. A colonização portuguesa se dava desta forma, os portugueses chegavam a um novo local, estabeleciam um processo de comunicação e relacionamento com o povo da região, em seguida iniciavam um processo de evangelização, visando converter a população local ao cristianismo, e assim alcançariam um grau de relacionamento que facilitariam a implantação de um programa político e administrativo mais humano e sensível a vontade popular. Foi assim com o Brasil, onde este processo ocorreu desde as primeiras esquadras que aqui chegaram com os jesuítas.
A partir de sua descoberta, as Ilhas dos Açores receberam, então, levas de portugueses, e foram transformadas em uma base de operações do governo português em seu processo de colonização. Inúmeras esquadras e famosos navegadores partiam todos os dias com um enorme contingente de pessoas, ferramentas e mantimentos num processo de emigração para as novas colônias, processo este que se dava com o objetivo de estabelecer a posse, aumentar a força local, garantir a colonização e estabelecer e garantir o domínio português.

Dentro deste contexto, O infante Dom Henrique, filho de João I de Portugal e de Philippa de Lancaster, concedem a Jácome de Bruges, o navegador flamengo, natural de Flandres na Normandia, a concessão para a colonização e exploração da Ilha Terceira. Como vimos, em nossa matéria anterior A Origem da Família Paim do Brasil, e no Mundo, Duarte Paim, filho de Valentim Paym, e neto de Thomas Payne; se casou em 1450 com Antônia Dias de Arce e Bruges, a filha de Jacome de Bruges (1418-1474) e de sua esposa Sancha Rodrigues D'Arce (1428-    ). Sabemos que Sir Thomas Allen Payne, era o homem de confiança de Philippa de Lancaster, seu secretário pessoal e tesoureiro, bem como, era o inglês, de ascendência normanda, que havia acompanhado Philippa por ocasião de seu casamento com João I de Portugal. Portanto, este casamento de seu neto Duarte Paim, parece mais que uma coincidência, uma excelente conveniência.



A emigração Açoriana para o Brasil ocorreu de todas as ilhas dos Açores, e não só da Ilha Terceira. Vieram para cá açorianos das Ilhas de São Miguel, Fayal, Flores, Graciosa, do Pico, São Jorge e Santa Maria, contudo é da Ilha Terceira que procederam os dois principais patriarcas das famílias Paim do Rio Grande do Sul (AS ORIGEM DAS FAMÍLIAS PAIM DO RIO GRANDE DO SUL), já que os descendentes desta família do Rio de Janeiro e Bahia, procediam de Isabel Paim de Portugal, a irmã de Duarte Paim.
Os açorianos, nessa época, viviam com um forte sentimento de isolamento, em face do vínculo que mantinham com os limites estabelecidos pelas ilhas e a vida pacata que vivia o ilhéu. E, de certa forma, se sentiam impelidos a deixa-las, buscando novas paragens distintas do limite insular. À estas ilhas se chegavam e se partiam, quer por intervenções do estado, motivado por políticas administrativas ou expansionistas, quer pela vontade pessoal de seus habitantes que ansiavam por rasgar o cerco do mar, e encontrar novos horizontes.
Os interesses individuais, impulsionados por estratégias familiares de nobres ou de simples populares, encontravam o amparo nos interesses estatais, que viabilizavam o transporte, a colonização e a assistência militar, afirmando, assim, a nacionalidade portuguesa nas fronteiras ou no interior do império. O império, oferecia além do transporte, a terra, os recursos iniciais e a assistência através de seus governadores locais. A demanda de gente para ocupar as novas colônias era muito alta, não bastava o exílio de degredados, era necessário aliciar novos colonos, casais jovens dispostos a empreender esforços visando prover as necessidades de suas famílias.
Houveram açorianos, que viviam na miséria na Ilha de São Miguel, que partiram para as mais remotas colônias portuguesas na Ásia, como houve alguns, como Manuel de Ávila, terceirense, nascido em 1563, que entrou em Buenos Aires, em 1585, sem licença.
No século XVII, contudo, assistiu-se a uma forte movimentação migratória organizada pelo Estado, com intuitos colonizadores ou como contribuição militar, para salvaguardar os interesses portugueses no Brasil. Com efeito, em 1615, Jorge de Lemos de Bettencourt propôs introduzir 200 casais açorianos no Pará que, afinal, acabaram por seguir para o Maranhão, onde a primeira leva chegou em 11 de abril de 1619. A colónia do Maranhão prosperou, e em 1621 duzentos novos colonos [casais] chegaram dos Açores. Em 1628, outros 200 novos casais chegavam de navios destinados ao Maranhão e ao Rio de Janeiro. Entre 1648 e 1649, mais 600 casais oriundos das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel chegaram à capitania do Maranhão, e assim se sucedeu nos anos seguintes até o final do século XVII. Ainda no século XVII. Em 1637, Manuel de Canto e Castro aventou a possibilidade de proceder nos Açores ao recrutamento de mil infantes e duzentos marinheiros para completar contingentes ou mesmo para formar regimentos para combaterem nas fronteiras do império português. No ano seguinte, D. Diogo Lobo propôs-se recrutar aí mais mil indivíduos para servirem no Brasil, na libertação da Bahia; e nesse mesmo ano, o capitão Pedro de Lemos Cabral pedia licença para formar, em qualquer das ilhas dos Açores, mais uma companhia de cem homens para ser agregada às forças de D. Diogo Lobo. E, em 1639, numa viagem de 75 dias, dezesseis navios percorreram o trajeto entre os Açores e o Brasil, transportando centenas de jovens açorianos e alguns padres jesuítas. As demandas eram muitas, e os destinos, principalmente Pará, Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro, receberiam, nos anos seguintes, milhares de Açorianos. A população açoriana no final daquele século era de aproximadamente 100.000 habitantes, e, estudos de alguns historiadores estimam que um contingente de aproximadamente 10.000 homens deixou os Açores rumando para o Brasil.
A forte movimentação migratória ocorrida nos Açores resultou numa forte concentração de uma população de velhos e doentes nas ilhas, o que motivou a promulgação da lei de 20 de março de 1720, que aplicada as ilhas, constituiu-se num forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir uma justificação documental a todos os que para ali pretendessem se deslocar. Mesmo assim, ao longo da primeira metade do século XVIII a Coroa continuou, contraditoriamente, a apoiar e a promover a saída de casais ilhéus. Interessava agora, sobretudo, em povoar, explorar e defender as regiões fronteiriças do Sul, a Província de Cisplatina (atual Uruguai), Sacramento, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além daquelas do Norte. Em consonância com estes interesses, em agosto de 1722, são realizadas diligências para o transporte de 265 casais daquela ilha – num total de 1.432 pessoas – com destino à colónia de Sacramento. Iniciou-se assim a forte imigração açoriana para o Sul do pais que transcorreria pelos dois séculos seguintes.
Em S. Jorge, muitos casais tinham se alistado, na Câmara de Angra, a Ilha Terceira também forneceria um contingente numeroso de emigrantes. Ao findar a década, em 1729, os habitantes das Lajes do Pico integrariam os contingentes de açorianos que para cá viriam. Em 1747, haviam cerca de 8.000 indivíduos inscritos, entre casados e solteiros, o que correspondiam a 5,25% da população açoriana de então. Salienta-se, sobretudo, que a ilha de S. Jorge, teria mais de 1/5 de sua população disposta a procurar novas oportunidades no espaço brasileiro, e, com menor importância, as ilhas de Graciosa, Pico e Faial, que apontavam menos de 1/10 dos seus efetivos populacionais. Em termos globais, o arquipélago todo perdeu neste movimento, cerca de 5% da sua população, fato considerável, principalmente, se considerarmos tratar-se de gente jovem, quer em termos de fertilidade, quer quanto a sua capacidade e desempenho econômico-social.
O território brasileiro, por outro lado, era palco de assédio de espanhóis, franceses e holandeses. Haviam os limites estabelecidos pelo Tratado das Tordesilhas, que estas e outras nações, insistiam em não respeitar. As fronteiras ao sul, destacadamente nos arredores da Bacia do Prata, eram foco de um forte assédio pelos espanhóis.
Assim em 31 de agosto de 1746, o Rei Dom João V de Portugal, faz publicar o edital de convocação aos açorianos para emigrar para o Sul do Brasil.

Nota: Versão adaptada do texto original para o português atual.

D. João V, 31 de agosto de 1746

"O Rei, Nosso Senhor, atendendo às solicitações dos moradores das Ilhas dos Açores, que têm pedido mandar tirar delas o número de casais que for servido, e transportá-los à América, donde resultará às ditas Ilhas grande alívio em não ver padecer os seus moradores, reduzidos os males que traz consigo a indigência em que vivem, e ao Brasil um grande benefício em povoar de cultores alguma parte dos vastos domínios do dito Estado, foi servido por Resolução de 31 de agosto do corrente ano, posta em consulta do seu Conselho Ultramarino de 8 do mesmo mês, fazer o benefício aos casais das ditas Ilhas, que quiserem ir estabelecer no Brasil de lhes facilitar o transporte e estabelecimento, mandando-os transportar à custa da sua Real Fazenda, não só por mar, mas também por terra, até lugares que lhes serão destinados para as suas habitações, não sendo homens de mais de 40 anos e não sendo as mulheres de mais de 30;
E logo que chegarem a desembarcar no Brasil a cada mulher que para ele for das Ilhas de mais de 12 anos e de menos de 25, casada ou solteira, se darão 2.400 réis de ajuda de custo, e aos casais que levarem filhos lhes serão dados para vestir mil réis por cada filho, e logo que chegarem aos lugares que habitarão se dará a cada casal uma espingarda, 2 enxadas, 1 enxó, 1 martelo, 1 facão, 2 facas, 2 tesouras, 2 verrumas e 1 serra com a sua lima e travadeira, 2 alqueires de sementes, 2 vacas e uma égua, e no primeiro ano lhes será dada a farinha que entender bastar para o sustento, que são três quartas de alqueire por mês para cada pessoa, assim dos homens como das mulheres, mas não às crianças que não tiverem sete anos, e aos que tiverem até 14 anos lhes serão dadas quarta e meia para cada mês.
 Os homens que passarem por conta de sua majestade ficarão isentos de servir nas tropas pagas, no caso de se estabelecerem no termo de dois anos, nos lugares que se destinarem; aonde se dará: cada casal, um quarto de légua em quadra para iniciar sua cultura, sem que se lhe levem direitos, nem salário algum por esta sesmaria, e quando pelo tempo adiante tenham família, com que possam cultivar mais terra, poderão pedi-la ao Governador do distrito, que a concederá na forma das ordens, que tem nesta matéria.
E aos casais naturais das Ilhas que quiserem ir deste Reino, por se acharem nele, serão feitas as mesmas conveniências. Como também aos casais de estrangeiros, que não forem escravos, que tenham domínios na América, a quem possam passar-lhes. Aos que forem artífices será dada uma ajuda de custo conforme os requisitos que tiverem.
Todos aqueles que quiserem aproveitar do dito benefício nesta corte vão alistar-se de segunda a quinta-feira de tarde na casa do desembargador José da Costa Ribeiro, executor do Conselho Ultramarino que mora na rua? São José atrás da igreja da Anunciada.”
Com isto, a partir dos anos seguintes, principalmente através do porto da Ilha de Desterro (atual Florianópolis, começaram a chegar aqui os primeiros casais açorianos, recebendo apoio lusitano para se estabelecerem em território brasileiro, em áreas consideradas estratégicas para a consolidação do projeto colonial português no Brasil. Os açorianos que imigravam, buscavam melhores condições de vida, visto que nos Açores a pobreza assolava a sociedade, devido à perda de fertilidade dos solos e, sobretudo, após os eventos sismográficos que ocorreram nos anos anteriores. Para os migrantes, vir para solo brasileiro significaria sair da miséria em que viviam em sua terra natal.
Chegando ao Brasil, os migrantes açorianos buscavam o governador local em Porto Alegre, para reivindicar as terras concedidas pelo Rei de Portugal. Porto Alegre, então, passou a ser chamada de “Porto dos Casais”, em alusão aos casais açorianos que ali chegavam. Estes açorianos, inicialmente se estabeleciam em terras litorâneas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, formando ao longo do século XVIII importantes colônias e suas cidades. Atualmente, no centro de Porto Alegre, existe o "Monumento aos Casais Açorianos", esculpido por Carlos Gustavo Tenius, homenageando os sessenta primeiros casais que desembarcaram na cidade.

Como vimos no edital de convocação, os casais que aqui chegavam, ao desembarcar no Brasil recebiam:
1.       Cada mulher com idade entre 12 e 25 anos, casada ou solteira 2.500 réis. De ajuda de custo.
2.      Aos casais com filhos, 1.000 réis, a cada filho a título de vestimentas.
3.      Ao chegarem ao local que habitarão: 1 espingarda, 2 enxadas, 1 enxó, 1 martelo, 1 facão, 2 facas, 2 tesouras, 2 verrumas e 1 serra com a sua lima e travadeira, 2 alqueires de sementes, 2 vacas e uma égua, e no primeiro ano lhes será dada a farinha que entender bastar para o sustento, que são três quartas de alqueire por mês para cada pessoa, assim dos homens como das mulheres, mas não às crianças que não tiverem sete anos, e aos que tiverem até 14 anos lhes serão dadas quarta e meia para cada mês.
Foi desta forma, que nossos ancestrais açorianos começaram suas vidas nesta terra.
O impacto demográfico que esses colonos das ilhas tiveram no litoral do Sul do Brasil foi enorme. Entre 1748 e 1756, cerca de 6 mil ilhéus chegaram ao litoral de Santa Catarina, sendo que a população local era de apenas 5 mil pessoas. Santa Catarina recebeu 4.612 pessoas em 1748, 1.666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753. Outros tantos rumaram para o Rio Grande do Sul.
Essa imigração promovida pela Coroa, foi parte da estratégia da ocupação do Sul visando expandir os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Mas, ao contrário do esperado, esses colonos não penetraram o interior, e acabaram por se fixarem ao longo da costa, ou nas povoações nas imediações de Porto Alegre, como São Leopoldo, Viamão, Gravataí, Osório e Santo Antônio da Patrulha.
Esses colonos portugueses, ao longo da costa, fundaram pequenas vilas e lugarejos, vivendo da produção de trigo e da pesca. Do ponto de vista econômico, a colonização açoriana foi um fracasso. Isolados em pequenos grupos do litoral, se encontravam completamente despreparados para desenvolver o trabalho agrícola na terra desconhecida, e, sem um mercado consumidor para seus produtos, assim, restou-lhes desenvolver uma lavoura de subsistência. Aprenderam o uso da terra com as populações que já viviam na região antes de sua chegada, e ajustaram-se a um modo de vida mais indígena que açoriano, substituindo sua alimentação original por alimentos nativos, como a mandioca. Atualmente, é difícil distinguir hábitos e tradições açorianas nessas regiões, pois seu modo de vida se tornou essencialmente o mesmo das populações caipiras encontradas nesta região e no restante do Brasil.
Poucos açorianos se aventuraram pelo interior, os que se estabeleceram para o lado da
Serra das Antas eram constantemente atacados pelos índios. Estes açorianos, nos “Campos de Cima da Serra”, tinham uma vasta planície de terras férteis, mas também uma vida muito dura de luta e de confronto contra os índios das tribos Ka
ingang (Moderno: Coroados ou Antigo: Guaianás). Os “Campos de Cima da Serra” possuíam grandes extensões de campos fortemente cercados por fronteiras naturais: ao leste, os aparados da serra; ao norte, o caudaloso rio Pelotas; ao sul, o profundo rio das Antas; e a oeste, as imensas florestas denominadas mais tarde por Mato Castelhano e Mato Português. De incomparáveis belezas, de verdes campos ondulados, com abundantes matas e capões, quase sempre dominados pelo altivo pinheiro araucária. A região, que parecia inacessível para os espanhóis e portugueses, mais tarde se revelaria muito promissora para a criação de gado, não só pela segurança oferecida pelo momento, como pela excelência de seus campos pastosos e das boas aguadas que os regavam. Nestes campos, os jesuítas haviam levantado um marco de pedra com a legenda “S.J.1692”, no local que viria a ser denominado “Campos de Vacaria”. Um desses marcos encontra-se no Museu Público Municipal do Munícipio.
Dentro destes limites naturais, descreve o Padre Roque Gonzáles quando visitara a região décadas antes de 1700:
” Planícies se estendem a perder de vista, descortinando paisagens variadas e rasgando horizontes de dilatada amplidão; alternam com vales risonhos, enquanto lá no alto das serras negreja o verde-escuro pinhal, de copas arredondadas, imponentes no silêncio quase religioso, à luz abafada, onde erguem os braços ao céu, como que em súplica muda, mil candelabros gigantes, formados pelas esguias e possantes araucárias”. (Teschauer).
Em meados de 1740, após surgirem os primeiros portugueses com intenções de povoar as terras indígenas, e após inúmeros confrontos, em que, por vezes, se viam obrigados a abandonar suas terras, mais tarde receberam o reforço dos tropeiros, pioneiros que não mais temiam as investidas dos índios, e, estabeleceram, assim, os primeiros troncos do povoamento de Vacaria dos Pinhais. Foram eles:
1-      João de Campos Brandemburgo e Maria do Rego Melo.
2-     Manuel Rodrigues de Jesus e Clara Jorge de Melo.
3-     Antônio Borges de Vieira e Tereza Rodrigues de Jesus.
4-     Manuel de Souza Duarte e Maria Rodrigues de Jesus.
5-      Antonio Manuel Velho e Inácia de Jesus Velho.
6-     Inácio Fernandes dos Reis e Páscoa Gonçalves de Jesus.
Do entrosamento Borges Vieira e Rodrigues de Jesus, nasce Inácia Vieira considerada a “Mãe Eva” de Vacaria, dona da sesmaria onde se situa a parte urbana da cidade, tendo sido, a mesma, a doadora do terreno onde, hoje, se assenta a “Paróquia Nossa Senhora da Oliveira”, e que ainda, por este mérito, dá o seu nome a uma das principais ruas da cidade.

Quanto “Paroquia Nossa Senhora da Oliveira”. Tudo começou quando no dia 8 de setembro de 1750 (ano aproximado), nos ‘Campos de Cima da Serra”, foi encontrada uma imagem de Nossa Senhora da Oliveira, possivelmente deixada por uma caravana portuguesa, este achado gerou no local a construção de uma capelinha, que logo começou a receber devotos, que a ela recorriam em busca de sua proteção; o lugar foi rapidamente povoado. E, em 21 de março de 1761, o vice-rei de Portugal, reconhecendo Vacaria como um ponto estratégico, oficializou a criação da Capela de Nossa Senhora de Oliveira que ficou pronta no dia 21 de dezembro do mesmo ano.
Não podemos, também, deixar de citar a primeira Fazenda de Vacaria, que ainda traz consigo o seu nome original, “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, fundada pelo glorioso José Campos de Brandemburgo, considerado o “Pai Adão” da região, por ter dado início a colonização e responder pela formação de grande parte das famílias da região, que até hoje trazem seus descendentes.
O início da história da fazenda deu-se no século VXIII, quando José Campos de Brandemburgo, requereu sua concessão em sesmaria, e no ano de 1770, por ato do Governador Geral do Brasil, o General Gomes Freitas de Andrade, oficializou a concessão, nomeando-a Sesmaria de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. José de Campos Brandemburgo teve de seu casamento com Ana Maria de Braga Mello uma única filha, Clara Jorge, que veio a desposar Manoel Rodrigues de Jesus, respectivamente sogro e cunhado/compadre de Manuel de Souza Duarte e de Antônio Borges Vieira.
Os seis patriarcas de Vacaria, reconhecidos como tropeiros e que promoveram o início do desenvolvimento da região, foram por isto reconhecidos como os responsáveis pelo nome dado “Caminho das Tropas”, à via de ligação aberta entre Vacaria e São Paulo, de onde eram oriundos.
José de Campos Brandenburgo, trouxe ainda para Vacaria, a ascendência às chamadas famílias quatrocentonas da cidade de São Paulo, hoje quinhentonas. Sua ascendência se encontra descrita na “A Genealogia Paulistana” de Pedro Taques. Onde temos, entre os seus ancestrais mais ilustres temos:
1.       Francisco Van Der Burg, da Antuérpia, Flandres, Bélgica – seu trisavô
2.      Margarida de Campos Bicudo, sua mãe, da tradicional família Campos Bicudo de Santana do Parnaíba, São Paulo.
3.      Salvador Jorge Velho – Seu avô paterno, bandeirante renomado, radicado em Santana do Parnaíba, filho, neto e bisneto de bandeirantes, cujo patriarca aqui desembarcou junto com Tomé de Souza.
4.      Margarida da Silva, esposa do anterior – Sua bisavó paterna, cuja ascendência remete a família Do Prado, e daí a Nuno Velho Cabral marido de África Annes e importante membro da família de Pedro Álvares Cabral, seu primo.
5.      Luzia Leme de Barros - Sua avó materna, bisneta de Fernando Dias Paes, o avô de Fernão Dias Paes, o famoso bandeirante cujo corpo se encontra enterrado numa cripta sob a Catedral da Sé em São Paulo, ao lado do Cacique Tibiriçá e da Índia Piratininga. Fernando Dias Pais é de nobre ascendência a coroa portuguesa pela ilha da Madeira, de onde procederam.
6.      Salvador Pires de Medeiros – Bisavô materno, membro da família Pires que aqui chegou pela esquadra de Tomé de Souza, e que foi trineto do Cacique Piqueroby (irmão do Cacique Tibiriçá), e bisneto de Antônio Rodrigues, que aqui desembarcou, em São Vicente, na companhia de João Ramalho e Mestre Cosme, antes mesmo que a esquadra de Cabral aportasse em Porto Seguro.
7.       Ignês Monteiro de Alvarenga, esposa do anterior – Bisavó materna. Neta de Estevão Ribeiro Baião Parente, Senhor de Baião, e filha de Antonio Rodrigues de Alvarenga, cuja ascendência remete a Lopo Monteiro, e a coroa portuguesa e ao império Al Andaluz.

Como se vê, os descendentes de José de Campos Brandenburgo, devem a ele esta mistura sanguínea que associou o sangue português, o índio e o Viking (belga) ao pioneirismo do degredado Antônio Rodrigues, que primeiro pisou nestas terras. A tudo isto, devemos também somar a coragem dos bandeirantes que desbravaram este país e que tiveram seu berço em Santana do Parnaíba – SP.
Apesar de José Campos de Brandemburgo ter deixado só a filha Clara, está lhe deu 11 netos, e destes cerca de 50 bisnetos. Hoje já são mais de 10 gerações com quase 200.000 descendentes.
Além de José Campos de Brandemburgo, temos também a presença açoriana, principalmente através de Antônio Paim de Arruda e de José Bernardo (Paim) Coelho de Souza. dois açorianos responsáveis pelos dois principais troncos da família Paim. Sim, dos Paim que descenderam de Duarte Paim, o Capitão da Praia, genro do donatário da Ilha Terceira, que era neto de Sir Thomas Allen Payne, o secretário e tesoureiro de Philippa de Lancaster.
A chegar ao Brasil entre 1750 e 1760, Antônio Paim de Arruda, se estabeleceu na recém-criada Aldeia dos Anjos, nas imediações do Rio Gravataí, alguns anos mais tarde com o desencadeamento da guerra guaranítica, todos os açorianos foram transferidos para os vales do rio Jacuí e Gravataí mais ao centro do estado; contudo, a transferência de Antônio Paim de Arruda, pode ter-se dado já para Vacaria; nos registros de seus filhos eles aparecem como tendo nascido ou falecido em Gravataí, entretanto, nesta época o Município de Vacaria não existia oficialmente, logo seus habitantes constavam no registro como de Gravataí. Em 1798/800, José Bernardo Coelho de Souza, também desembarca no porto de Desterro, no então estado de São Pedro, e de lá, ele segue para Porto Alegre, e se estabelece, também na Aldeia dos Anjos, que em 1809, passaria a ser reconhecida como distrito de Porto Alegre. Assim começou a família Paim no Rio Grande do Sul, no princípio do século XIX, José Bernardo Coelho de Souza e seus 8 filhos, já encontrariam os 5 filhos de Antônio Paim de Arruda, cerca de 25 netos e talvez uns 50 bisnetos. Só em 1880 o distrito de Aldeia dos Anjos, foi alçada a condição de Munícipio, recebendo o nome de Gravataí.
Dos descendentes de Antônio Paim de Arruda, seu bisneto, Máximo Paim de Andrade, em conjunto com os filhos, seguem para a região de Vacaria, onde se casam e se estabelecem, após 1870. Dos filhos de José Bernardo Coelho de Souza, Joaquim Paim Coelho de Souza, se casa em Laguna em 1802, e muda para Porto Alegre; dos demais irmãos, José e Verissimo seguem para Alegrete, no sul do estado, e os demais aparentemente, permanecem na região de Gravataí. De Joaquim Paim Coelho de Souza, alguns de seus netos seguem para Vacaria onde se casam por volta de 1860.


Máximo Paim de Andrade, ao falecer parece ter deixado uma grande fazenda para os filhos, na BR 285 entre Vacaria e Lagoa Vermelha. Fidelis Dalcim Barbosa em “Nova História da Lagoa Vermelha”, cita que Juiz Antônio de Paula Holanda Cavalcanti é assassinado em 31/07/1870 por ocasião das medições que se realizavam nas Terras de Máximo Paim de Andrade e de seus agregados. No recenseamento de 01/09/1920, realizado pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, Máximo Paim de Andrade consta como proprietário de 2 estabelecimentos rurais. No livro “Disputas Políticas no Campo de Cima da Serra”, há um relato onde aparece Máximo Paim de Andrade:
“A Câmara municipal desta vila depois de praticadas as formalidades de estilo, pôs hoje em praça pública o rendimento das passagens do Passo do Pontão situado no distrito da Vacaria, a fim de ser arrematado a quem mais deixe por tempo de um ano, o maior lance que houve foi o que ofereceu o Ten. João Jacinto Ferreira da quantia de 120 mil réis, pelo que a Câmara resolveu que o dito Passo ficasse arrematado ao mesmo Ferreira pelo preço oferecido; cujo Passo esteve ultimamente arrematado por 42$000 por tempo de um ano, e a arrematação hoje feita é vantajosa à Câmara, assim o participa a V. Excelência para mandar o que for devido. Deus Guarde a V. Excelência. 65 A leitura desta correspondência leva a crer que o fato de arrematar um passo era o indicativo de que o arrematador era um homem de grande prestígio econômico dentro de uma regionalidade específica. Neste caso, tratava-se de João Jacinto Ferreira, um abastado fazendeiro e oficial da Guarda Nacional, portanto integrante da elite dos Campos de Cima da Serra, posteriormente envolvido no assassinato do juiz Antônio de Pádua Holanda Cavalcanti, rumoroso caso que movimentou a região nos anos 1870-1871. Três anos depois, em 1873, a mesma câmara municipal informou ao presidente da província o resultado do arremate dos passos do município. Desta vez, um dos arrematadores fora o tenente Máximo Paim de Andrade que ofereceu um lance de 1:000$000 (um mil conto de réis) pelas passagens do Passo Real das Antas por um tempo de um triênio.”
Parece não restar dúvidas de que Máximo Paim de Andrade, teve um papel importante no desenvolvimento da região, como era um proeminente fazendeiro, que possuía junto com os filhos e agregados um importante papel na pecuária de Vacaria e região.
Seu filho José Paim de Andrade, aparece em:
Inventário de 1912 em Vacaria
280 reses de 3 anos para cima a 45 mil réis cada uma e todas por 12 contos e 600 mil réis (12.600.000); 120 reses de 2 anos a 28 mil réis cada uma e todas por 3 contos 360 mil réis (3.360.000) 120 terneiros de ano a 18 mil réis cada um e todos por 2 contos 160 mil réis (2.160.000); 80 bois de 3 anos para cima a 55 réis cada ume todas por 4 contos e 400 mil réis (4.400.000); 6 bois carreiros a 80 mil réis cada um e todos por 480 mil réis; 22 mulas mansas de carga a 100 mil réis cada uma e todas por 2 contos e 200 mil réis (2.200.000); 2 ditas mansas imprestáveis a 20 mil réis cada uma, ambas por 40 mil réis (40.000); 2 ditas de 2 anos a 70 mil réis cada uma, ambas por 140 mil réis (140.000) 5 ditas de ano a 60 mil réis cada uma, todas por 300 mil réis (300.000) 22 éguas sem cria a 25 mil réis cada uma e todas por 150 mil réis (150.000) 12 cavalos mansos a 54 mil réis a 4 mil réis cada um e todos por 648 mil réis (648.000); 14 ditas velhas a 30 mil réis cada uma, todas por 420 mil réis (420.000); 4 potros de 2 anos a 30 mil réis, todas por 120 mil réis (120.000); Um dito de 4 anos por 40 mil réis (40.000); 4 ditas de sobreano a 20 mil réis cada uma, todas por 80 mil réis (80.000); 8 potrilhos de ano a 18 mil réis cada um, todos por 144 mil réis (144.000);
Inventariando: José Paim de Andrade; Inventariante: Velocino Paim de Andrade. Vacaria/ Cartório de Órfãos e Ausentes. Anais do II Seminário do GT de História Política – ANPUH/RS. 20.
Parece não haver dúvidas que Máximo Paim de Andrade e seus filhos foram fazendeiros em Vacaria e possuíram imensas áreas de terra, obviamente fragmentadas nos anos seguintes entre seus herdeiros. José Paim de Andrade e Anna Maria Pacheco, sua esposa, possuíam uma propriedade rural as margens da BR 285, a qual possuía um cemitério local onde os mesmos foram sepultados, com a companhia de alguns irmãos, talvez dos pais e alguns filhos e netos. O filho Antônio Paim de Andrade (Cunda), foi proprietário de uma fazenda as margens da BR 116, possivelmente havida por herança de uma fração da propriedade de seu pai José Paim de Andrade; e nesta ele também construiu um cemitério particular, com o fim de acolher seus familiares. Com a venda da propriedade original na BR 285, que parece ter pertencido a uma irmã de Cunda, as ossadas de José Paim de Andrade e de Anna Maria Pacheco foram transferidas para a fazenda do filho denominada Fazenda Ipê, e junto com elas seguiram também uma placa de mármore com a gravação de seus nomes e as correntes que a ornavam.
Hoje a Fazenda Ipê, o seu cemitério, acolhe os jazigos de José Paim de Andrade e Ana Maria Pacheco, Antônio Paim de Andrade e Almedorina Alves Paim, além de alguns filhos e netos, como o antigo proprietário Riograndino Paim de Andrade (Tio Dino).
Acolhe os corpos de Oscar Paim Alves e sua esposa Graciema Facioli Paim, Oscar era o irmão de Almedorina e Candida; seus filhos Torquato Alves Paim , sua esposa Honorina Golim Paim, que era irmã da esposa do Nice Paim e da esposa do Normélio Rodrigues Paim, a filha Dina e esposo Nelson Golin, seus netos e netas.

Acolhe os corpos de Pedro Paim de Andrade, Irmão de Antônio Paim de Andrade, suas três esposas, Cândida Alves Paim, Regina, Séptima Luiza Dal Pizzol Paim, os filhos Pedro e Cândida, seus 6 filhos falecidos ainda na infância, além de netos e netas. Abriga, ainda o corpo do genro Dr. Júlio Cesar do Valle Adolpho, esposo de nossa prima Maria Luiza Paim. O jazigo de Pedro fica ao lado do jazigo de seu irmão Cunda, e ainda ao seu lado, fica ainda o jazigo de sua irmã Maria José (Mulata).
O cemitério abriga ainda muitos túmulos com suas cruzes em ferro, onde se pode ler o nome de seus ocupantes.
A fazenda Ipê na parte onde se situa o cemitério, é hoje de propriedade do Antoninho, em cujo cemitério se encontra também o corpo de sua irmã Laura Helena.
Na foto abaixo, se nota a presença de uma espécie de andarilho apoiado numa coluna. Trata-se de um antigo funcionário do Cunda, que hoje conta com 110 anos de idade, e que diariamente visita o cemitério para fazer suas preces ao antigo patrão e amigo.

A família Paim, tanto no Sul, como em São Paulo e Mato Grosso onde marcou presença, através de José Paim de Andrade, o irmão de Riograndino (Dino), também filho de Cunda, se caracterizou pela solidariedade, generosidade e dedicação ao próximo. Esta foi a marca de Cunda, do filho Dino em Vacaria, e do filho Zeca, em São Paulo, Mato Grosso e Presidente Prudente, onde não logrou esforços, para com recursos próprios, adquirir terreno e levantar a sede da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, da qual foi seu primeiro Presidente.





 












































Não publicamos fotos dos descendentes destes, por não possuirmos autorização expressa para tal.

















3 comentários:

  1. Maravilha primo Marcos, muito ilustrativo sua explanação. Trabalho maravilhoso.

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    1. Oi J C P,
      Tive um problema com a placa mãe de meu computador e só pude retornar agora. Agradeço muito seus elogios e me coloco a disposição.
      Abraços,

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  2. OI MARCO ANTÔNIO, SOU SALETE BORGES HLAVAC, ESTOU EM SEUS RELATOS. SOU NETA DE HERACLYDES ALVES PAIM E DE ANDRINA LISBOA BORGES. ESTOU ESCREVENDO UM LIVRO SOBRE A VIDA DA MINHA MÃE CLORY TEREZINHA PAIM BORGES. QUANDO LI SEUS RELATOS, FIQUEI LOUCA DE FELICIDADES.

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